segunda-feira, 19 de maio de 2008

Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar

“A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas”
Supervisora: Alice Matoso
Trabalho elaborado por: Dra.Zita S. Neves
Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar
Lisboa, Janeiro 2007
Índice
Família, torna-te naquilo que És… ……………………………………. 3
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
2
Nota explicativa ……………………………………………………. 4
Introdução ……………………………………………………………. 8
1- O conceito de Família Multiproblemática …………………….. 10
1.2- Raízes históricas ……………………………………………. 11
2- Características das Famílias Multiproblemáticas …………….. 12
2.1- Estrutura familiar ……………………………………………. 12
2.2- Funcionamento familiar ……………………………………. 14
2.3 – Recursos/competências …………………………………….. 16
3- Intervenção ……………………………………………………. 18
3.1- Equipas multidisciplinares …………………………………….. 19
3.2- O P.I. sou eu, és tu ou somos Nós? …………………………….. 20
3.3– A Mudança ……………………………………………………. 21
Conclusão …………………………………………………………….. 23
Bibliografia …………………………………………………….. 24
Família, torna-te naquilo que És…
A Família, realidade tão simples e complexa como o amor que lhe dá origem,
só vivendo-a se conhece, só conhecendo-a se ama e só amando-a se valoriza
e se descobre como torrente refrescante de vida.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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Nesta vida, cansados de um materialismo estonteante, desorientados e
desiludidos das falsas realidades, quase desistimos de encontrar esse amor.
Não raro, a uma distância, senão mesmo à beira desse centro revitalizador da
existência: Ser!
Ser pessoa e ser família são dois valores fundamentais. Viver a família implica
o conhecimento, o reconhecimento e a vivência destes dois valores.
Pessoa, Família e Sociedade são círculos concêntricos. A Pessoa está no
centro e apoia a sua construção na família. E a evolução desta será ou é o
espelho da sociedade.
A célula, o corpo, a acção, a autoconstrução com… Comigo? Contigo? Com
pessoas? Por vezes também com técnicos de Acção Social.
Um dos princípios que orientam a (minha) vida é acreditar que a pessoa/família
tem potencialidades para mudar o seu comportamento, por mais fragilizada que
esteja. E estão muito fragilizadas as famílias, que são objecto do nosso
trabalho! A nossa função é ajudá-las a reconhecer e apoiarem-se no que teem
de mais positivo para poderem alterar o que for necessário. Para tal, é
necessário criar com elas as condições básicas para uma intervenção senão
plena, eficaz.
Há eficácia quando se atingem os objectivos traçados em conjunto. Há eficácia
se se satisfazem as necessidades e as aspirações objectivadas ou atrevo-me a
dizer sonhadas...
A Pessoa Humana é um Todo. Chama-se Maravilha!
Nota explicativa
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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A Terapia Familiar integra uma epistemologia, um corpo teórico e
uma abordagem terapêutica. “A epistemologia é circular, não
causalista e sistémica. Estipula que os problemas humanos não
têm só um sentido mas têm, também, uma função no contexto
mais alargado em que surgem. (…) Nessa perspectiva seria mais
adequado falar de análise (nível teórico) ou de terapia (nível
terapêutico) sistémica do que de terapia familiar, uma vez que a
família é um sistema entre sistemas (…). Pode falar-se, também,
de abordagem e intervenção sistémicas para o indivíduo, o casal,
a instituição e um contexto micro-social mais lato (intervenção em
rede). (…) O terapeuta ou observador pontua o sistema em que
tem necessidade de intervir, em função do contexto em que o
sintoma surge. Isto permite diferenciar a terapia familiar sistémica
de outras terapias familiares não sistémicas.”
Benoit e tal., 1988: 514
A definição de terapia familiar ultrapassa a caracterização de uma forma de
intervenção psicoterapêutica, como é visível na citação de Benoit e
colaboradores. Com efeito, a sua qualidade sistémica bem como a sua
evolução actual levam-nos a afirmar que sob a designação de terapia familiar
se reúne um conjunto de pressupostos teórico-epistemológicos que implicam
que esta forma de intervenção tenha surgido e se tenha assumido como uma
ruptura em relação aos modelos estabelecidos no campo das psicoterapias e
da psicologia e psiquiatria em geral linearmente causualistas e centrados no
individuo como entidade isolada, (…). (Relvas 2003)
A minha prática profissional actual está enquadrada na política social do
Rendimento Social de Inserção (RSI), e insere-se numa equipa multidisciplinar
constituída por uma assistente social, uma educadora social e uma psicóloga.
Desenvolvemos uma intervenção sistémica com cada família: estudando,
diagnosticando, intervindo e avaliando continuamente o trabalho desenvolvido
e as acções em curso com as famílias e respectivos elementos constituintes.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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Este trabalho é fruto dessa intervenção sistémica desenvolvida no terreno.
Optei por não apresentar uma reflexão acerca da intervenção psicoterapêutica,
que tenho vindo a desenvolver, porque ponderando as mais valias em termos
profissionais, esta reflexão, neste sentido, parece-me ser primordial
actualmente.
Apesar de não desenvolver, com estas famílias, uma intervenção apenas
psicoterapêutica, é desenvolvido um trabalho sistémico com cada agregado
familiar no seu todo, em continua articulação com a rede social que dá corpo a
um conjunto de recursos necessários às problemáticas diagnosticadas. Isto
porque a família é um sistema e, portanto, o facto de um membro viver um
problema tem impacto em cada um dos outros membros e no todo familiar.
Assim, este trabalho estabelece uma ponte entre a teoria e a prática. A primeira
enquanto base de compreensão profunda dos conceitos sistémicos; a segunda
pela sua relevância prática, que permite que os instrumentos de acção
implementem a intervenção. Ou seja, uma prática reflexiva com o objectivo
último de tornar mais eficaz a intervenção psicossocial que desenvolvo em
equipa com cada família multiproblemática. Esta entendida como família a
vivenciar um emaranhado de sistemas de problemas, pouco capaz de se
distanciar e reflectir sobre as ocorrências e potencialidades próprias.
Desta forma, apresentarei situações concretas de famílias que permitem ver,
enquanto fazer, a ponte entre os conteúdos teóricos e a intervenção/olhar
sistémico. Como de seguida ilustrarei.
Ana é mãe de três filhos: o mais velho, de 12 anos, está entregue a uma
família de acolhimento desde os quatro anos, por negligência da mãe. Mónica,
de 9 anos, vive com o pai, ao qual está entregue o poder paternal e Maria, de
6 anos vive com a mãe, cujo poder paternal lhe foi atribuído.
Em avaliação psicológica à Maria foi despistado possível abuso sexual do
senhor que frequenta a casa da mãe à Maria. A menor é-lhe automaticamente
retirada e entregue, com medida provisória, ao pai.
Em atendimento Ana revela que o senhor que frequenta a casa a ajuda
economicamente, dada a prestação do RSI ser insuficiente para as despesas.
A sr.ª Ana não cumpre o que foi acordado com os técnicos: comparência na
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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investigação judicial; consultas de psiquiatria para elaboração de diagnóstico
clínico; procura de emprego; atendimento conjunto com a sua família e
manter-se afastada da sua filha.
O pai das menores e a Ana acabam por fazer as pazes e a sr.ª Ana volta a
viver com o seu ex-marido.
Esta situação é acompanhada pela equipa de RSI: psicóloga, educadora
social e assistente social, pela técnica da Comissão de Protecção de Menores,
pela psiquiatra e pela técnica do clube de emprego.
O diagnóstico empírico caracteriza esta mãe como negligente, apesar de cuidar
de algumas necessidades básicas da sua filha. O pai das crianças também
revela ausência de competências parentais a vários níveis.
Contudo, que intervenção sistémica foi desenvolvida ou deveria ser
aprofundada por cada técnico? Como é que cada técnico e o conjunto destes
definiram os objectivos de acção? Que diagnóstico continuo foi sendo
actualizado com todos os intervenientes? Que conclusões foram construídas
para definição de estratégias de intervenção?
Constantemente esta reflexão é feita por mim. As questões que “assaltam” a
intervenção são várias; as respostas vão sendo assim encontradas.
O objectivo último não é fazer o diagnóstico para assim promover a mudança
na família e ela ficar “saudável”. O objectivo é aceitar que as famílias tenham
uma capacidade de auto-organização, em termos de interacção
transformadora. E, este objectivo deverá ser a base de resposta, enquanto
reflexão, a todas as questões.
Através do pedido inicial facilmente diagnosticamos que os pedidos lactentes
em cada situação-problema em acompanhamento, demonstram ser múltiplos,
requerendo por isso uma intervenção constante e planeada com várias acções,
em articulação com uma equipa multidisciplinar e um conjunto de recursos
institucionais (comunitários e outros). A situação descrita de seguida ilustra o
referido anteriormente.
A sr.ª Lurdes demonstra uma preocupação continua com os filhos, e olhando
para a Assistente Social:
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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“Dr.ª eu pedi o Rendimento porque não consigo pagar as contas só com o que
o meu marido ganha (…) e para além disso ele gasta quase tudo na bebida.
…Porque a minha preocupação são os meus filhos: o mais velho diz que vai
ter com o primo à Suiça, o Paulo quer acabar o curso profissional e começar a
trabalhar para sair também de casa, o João não tem andado bem na escola
(…) e a pequenina voltou a fazer chichi na cama. Do Centro de Emprego
nunca mais me chamam e eu não sei se posso ir para a escola à noite Dr.ª,
por causa dos miúdos.”
- Considera que a escola não é importante para si, sr.ª Lurdes? Pergunta a
Assistente Social.
É importante, mas o meu marido nem sempre chega a casa cedo, começa a
beber e chega a casa lá para as tantas e os meninos não podem ficar
sozinhos, enquanto eu vou para a escola.”
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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Introdução
As famílias multiproblemáticas constituem um dos maiores desafios para os
técnicos de acção social a vários níveis: primeiro porque exigem um olhar
profundo sobre as problemáticas diagnosticadas, e a maior parte das vezes a
quantidade de trabalho exigido é inimiga de uma qualidade na intervenção. Em
segundo lugar porque o técnico em si, fruto (a meu ver) de uma formação
académica insuficiente, não desenvolveu um conjunto de competências
profissionais e também pessoais essenciais à relação de ajuda. A ausência de
valorização e consequente inexistência de supervisão in loco também poderão
contribuir para esta ausência da prática reflexiva.
O processo burocrático dos serviços é outro dos aspectos que dificulta o
desenvolvimento de uma intervenção centrada em cada situação-problema.
Depois, porque as famílias multiproblemáticas exigem uma acção sistémica: de
equipas multidisciplinares e de trabalho em rede. E neste âmbito a riqueza em
vivências e situações difíceis de uma família multiproblemática transmitem por
vezes um sentimento de esgotamento por parte das equipas de profissionais,
que se acentua perante os parcos ou nulos resultados obtidos, após um grande
investimento ou empenhamento, dados os recursos necessários para dar
resposta a cada situação.
A mudança, tão desejada, por um lado não é sentida da mesma forma por
estas famílias. Por outro lado a fragilidade ou precariedade de vida constitui um
forte obstáculo a qualquer intervenção no sentido da mudança, uma vez que
esta assenta na disponibilidade dos sujeitos e do processo familiar.
Liliana Sousa (2005), refere que os obstáculos à mudança nas famílias
multiproblemáticas não existem exclusivamente nos agregados, emergem,
igualmente, da forma como os serviços e os profissionais se organizam com o
propósito de lhes prestar apoio. Uma tentativa desadequada de mudar
dificuldades existentes desencadeia novos problemas ou acentua os já
existentes, ou seja, podem desenvolver procedimentos que afectam
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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negativamente, desencorajam, invalidam, mostram desrespeito e encerram as
possibilidades de mudança.
No caso das famílias multiproblemáticas são ainda mais relevantes estes
factores porque a intervenção envolve vários técnicos e instituições, cada um
olhando e tratando individualmente os problemas diagnosticados. A dificuldade
de articulação e coordenação gera confusão na família e entre os técnicos,
limitando os resultados e, muitas vezes, constituindo mais um foco de
problemas.
Este trabalho é, assim, o fruto da minha prática profissional com famílias.
Independentemente da área específica de intervenção, cada família é cada
família, única e caracterizada como tal.
Esta introdução não pode terminar sem que expresse o meu profundo
agradecimento a todos os que permitiram que eu chegasse até aqui: com erros
e com sucessos, com retrocessos e com avanços, com crises, mas sobretudo
com Crescimento.
A todas as pessoas: directores, superiores hierárquicos, colegas,
utentes/clientes, pais, irmão e marido que fomentam e promovem a
comunicação e em alguns casos a metacomunicação para que este mundo gire
em volta do que tanto se apela, mas para a qual ainda nem todos conseguem
fazer: simplesmente Comunicar.
E, sobretudo para todos os formadores da Sociedade Portuguesa de Terapia
Familiar, em especial à supervisora Alice Matoso que tanto contribuiu para o
meu crescimento pessoal, enquanto elemento constituinte de uma família, e
profissional. E, penso que é este crescimento, evolução pessoal que distingue
a intervenção de cada técnico, também única como pessoa e na sua forma de
acção.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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1- O conceito de Família Multiproblemática
Como o próprio conceito refere as famílias multiproblemáticas caracterizam-se
por um emaranhado de sistemas de problemas. Famílias com histórias de vida
em espiral, centradas nas vivências diárias, sem reflexão, pouco capazes de se
distanciarem e reflectirem sobre as ocorrências e potencialidades próprias.
Os membros destas famílias acusam escassez de recursos ao nível de
inteligência emocional (Goleman, 1997): dificilmente gerem as suas emoções,
vivendo simplesmente cada momento; desconhecem as suas emoções e em
consequência as emoções dos outros, reagindo sem compreender ou
contextualizar. A estrutura destas famílias é marcada pela indefinição e
instabilidade, arrastando fortes inconvenientes organizacionais em múltiplas
frentes: desde a definição de tarefas e funções até às regras de
relacionamento. (Sousa, 2005)
A especificidade do conceito revela famílias de interacção caótica,
independentemente do grupo social, económico e cultural, apesar de as
famílias pobres serem a parte mais exposta perante a comunidade e os
serviços sociais.
Assim, enquanto intervenção social, outro elemento distintivo das famílias
multiproblemáticas é a predominância referente ao titular do processo do
elemento feminino. Constituem um elevado número as famílias monoparentais
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femininas ou estabelecendo relações afectivas pouco duradouras, em união de
facto, com filhos a cargo das consequentes anteriores relações.
No decorrer da intervenção é possível verificar a sua incapacidade de
negociação e contratualização com o técnico, traduzindo-se a sua
disfuncionalidade a vários níveis.
Por exemplo: Uma família alargada pretende autonomizar um dos filhos do
seu agregado familiar, que vive em união de facto com a sua companheira e
dois filhos num quarto da casa. Assim, contratualizam com o técnico proceder
às diligências necessárias para aquisição de habitação social, mas quando
questionados sobre a forma de pagamento da renda, dado que estão ambos
desempregados, não conseguem definir acções que visem o objectivo
pretendido.
Mas o que realmente surpreende e perturba é a quantidade de tragédias que
ocorrem nestas famílias: mortes, acidentes, doenças crónicas, deficiências… A
fragilidade destas pessoas é palpável a nível quer da saúde física, quer do
bem-estar emocional. Vivem situações de violência e abuso de substâncias,
têm habitações precárias, trabalhos instáveis, funcionamento interpessoal
seriamente afectado… Nestas circunstâncias, qualquer pequeno problema ou
dificuldade adquire contornos de tragédia, porque ocorre num contexto já
trágico, em que há poucas condições para o ultrapassar. (Sousa, 2005)
1.2- Raízes históricas
O conceito de família multiproblemática na sua origem, por volta de 1950 –
início da industrialização, reportava-se a famílias de baixo estatuto
socioeconómico, no limiar da pobreza, não estabelecendo relações
interpessoais, sociais e familiares, enquanto características especificas das
famílias multiprobemáticas. Contudo, as investigações desenvolvidas
permitiram aprofundar a noção demonstrando que a relação entre pobreza e
multiproblemática não é restrita a uma classe social desfavorecida, é apenas a
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mais visível para os serviços sociais e para a comunidade. A classe social mais
elevada tem normalmente em cada família a capacidade de fazer frente a um
conjunto de necessidades que vão surgindo, não se transformando estas em
problemas sociais.
2- Características das Famílias Multiproblemáticas
Conhecer o que normalmente caracteriza as famílias multiproblematicas
permite olhar com “outros olhos” para uma realidade tão complexa, que nos
deixa quase sempre apreensivos com a decisão do caminho a seguir com cada
sistema familiar. A partir da definição dos pedidos explícitos e implícitos
saberemos definir estratégias e adequar as respectivas metas, tendo em conta
que as famílias multiproblemáticas são únicas e diferentes em termos de
estrutura e funcionamento.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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2.1- Estrutura familiar
Nas famílias multiproblemáticas são frequentes as brechas nas definições de
papéis, uma vez que estes não se encontram firmemente estabelecidos ou
solidificados, notando-se inconsistência e falta de controlo (Wezman, 1985).
São constantes as famílias com uma estrutura caracterizada por uma
dinâmica de repetidas rupturas e reconstituições, com consequentes filhos de
relações curtas no tempo e superficiais em termos emocionais. Encontramos,
também, um corte relacional com um ou vários elementos da família,
consequência de constantes conflitos.
O espelho dos agregados familiares com os quais temos vindo a intervir
reflectem, o que poderemos chamar, uma tipologia. Esta baseada em Liliana
Sousa permitiu-me adaptar à minha prática uma tipologia que defini:
- Pai instável, isto é, vivenciando uma situação profissional precária ou mesmo
no desemprego; com um nível de instrução e de competências modesto, que
lhe confere um papel secundário ao nível da gestão económica e emocional.
Este pai descrito como ausente, quando solicitado para comparecer na
entrevista revela algumas capacidades omitidas pela sua companheira/esposa.
Esta é ambivalente na descrição que faz dele: negativa, mas defendendo
igualmente quando questionada pelos técnicos sobre as suas capacidades.
- Mãe pilar do sistema familiar, isto é, mulheres normalmente sozinhas ou com
companheiros cujo vínculo emocional se caracteriza por superficial, a educar
os filhos, frutos de relações anteriores. Com baixa escolaridade, são obrigadas
a acumular vários empregos, para fazer face a um conjunto de despesas
inerentes ao agregado familiar ou vivem, de forma contínua, na dependência
de subsídios de acção social. Não se conseguem organizar a vários níveis, e
em algumas situações extremas o tribunal de menores retira-lhes as crianças.
Acumulam dívidas consecutivas.
- Crianças/jovens problemáticas, isto é, prevalece o absentismo e/ou abandono
escolar, precedido de comportamentos negativos sinalizados pelo
educador/professor ao encarregado de educação. Quando não são sinalizadas
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pelo seu comportamento negativo são caracterizadas como crianças isoladas,
sem alegria e pouco comunicativas com os pares. Não têm uma estrutura
familiar modelo, construindo eles próprios, através do contexto onde estão
inseridos, essas referências, isto é, a ausência dos pais e outros familiares de
referência obrigam a transferir a sua identificação, enquanto construção da sua
personalidade, para outros adultos exteriores ao seu contexto familiar.
- Avós, física e emocionalmente ausentes, mesmo quando presentes
fisicamente, dado que raramente se constituem como elementos de referência
na família, poderão assim ser considerados como ausentes. São fonte de
constantes conflitos com os vários membros do sistema familiar, quer pela sua
própria história de vida (quantas vezes repetida), quer pela postura central que
pretendem assumir de forma ambivalente, tendo como consequência um
desrespeito e sentimento de solidão de todos. E, aqui é importante ressaltar a
característica de repetição nas gerações das multiproblemáticas vivenciadas no
contexto familiar, porque se traduzem por vezes na dependência multiassistida
dos serviços.
Globalmente os seus membros caracterizam-se pela grande distância entre os
membros e limites pouco definidos ou excessivamente permeáveis. Apesar
deste desprendimento, a individualização é apenas fácil na aparência, pois o
escasso investimento a nível emocional converte-se em precária autonomia
dos membros.
A característica geral da instabilidade a vários níveis prende-se com a
incapacidade de construir relações conjugais coesas, oscilando entre
momentos de grande paixão seguidos de períodos de agressividade.
Como a conjugalidade está directamente associada à parentalidade,
habitualmente, a inconstância conjugal arrasta a deterioração da função
parental. Neste contexto, não admira que os filhos apresentem falhas na
segurança básica e interiorizem modelos inseguros de vinculação, que lhes
dificultam a verdadeira autonomização e a tranquila exploração do meio. Os
filhos são deficientemente socializados, demonstrando ausência de protecção
face ao exterior e de normalização (falta de conhecimento das normas
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culturais), potenciando os conflitos com o meio. Na verdade, são criados e
vivem num círculo de abandono e falta de cuidados. (Sousa, 2005)
2.2- Funcionamento familiar
O funcionamento familiar refere-se às formas de relação que são (ou não)
estabelecidas entre os membros da família, por exemplo: modo como
organizam o dia-a-dia, capacidade(s) de ultrapassar as mudanças, formas de
demonstrar afectos, etc.
Cada família é única no seu funcionamento, contudo a necessidade de
intervenção surge quando estas as famílias sozinhas não conseguem
responder a um conjunto de alterações que se vão desenrolando ao longo da
própria vida.
Nas famílias multiproblemáticas as funções familiares são realizadas de forma
insatisfatória, tanto nos aspectos de ordem mais organizativa (gestão
económica e da casa, educação, saúde,…) como nos mais relacionais (gestão
de conflitos, nutrição emocional dos filhos, intimidade, estabilidade afectiva)
(Alarcão, 2000) E, quando as famílias sentem a necessidade de ajuda externa
poderão assumir essa ajuda como uma necessidade, interiorizá-la e fazer uso
dela na sua dinâmica ou, como normalmente acontece com as famílias
multiproblemáticas, não fazer uso construtivo dessa ajuda e pelo contrário, ao
utilizá-la, diminuir a sua dedicação, o que aumenta os sentimentos de
incompetência. Então não deveremos intervir? Não caíamos na tentação de
geradores de novas impossibilidades, facilitismos, a questão deverá ser: Como
deveremos intervir? Por que mudanças na nossa própria intervenção nos
deveremos pautar?
Nestas famílias não se respiram as emoções, estas não são partilhadas entre
os membros da família, cada um vive a sua vida de forma superficial; as
emoções sentem-se apenas intensas no plano individual, porque a
comunicação (e muito menos a metacomunicação) também não é intensa.
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Um dos aspectos que mais me impressionou no início de carreira (à 7 anos
atrás, num contexto geográfico de bairro de lata da Amadora), e ainda
impressiona, é a forma como as famílias multiproblemáticas de baixo nível
socio-económico vivem no dia-a-dia. Não existe o hábito ou a competência, de
pensar de forma organizada no amanhã. E esta incompetência é transversal a
múltiplas capacidades: as emoções vivem-se com suprema intensidade e
escasso controlo.
O poder também não é assumido pelo subsistema parental, a desorganização
é extrema, não existindo o seu exercício, mas frequentes passagens aos actos.
Tentámos entre Janeiro e Junho que a questão dos horários de fazer os
trabalhos de casa e dormir fossem cumpridos entre o João, a mãe e o pai.
Não se conseguiu, porque os pais sentiam-se incapazes de o conseguir; no
final do ano lectivo o João ficou retido e o nosso receio concretizou-se: o pai
do João voltou a bater nele.
A capacidade de comunicação nas famílias multiproblemáticas é caracterizada
pelo caos, a pobreza das mensagens e a falta de directividade e clareza. Estes
aspectos estão directamente relacionados a vários problemas familiares:
conflitos, não resolução efectiva de problemas, frágil ligação emocional.
Ausência de metacomunicação.
Através da análise do tipo de comunicação é possível verificar a dificuldade
destas famílias em conceptualizar o futuro.
Todas estas dificuldades culminam não na última, mas naquela que espelha,
de forma clara, a organização familiar. Nas famílias multiproblemáticas o
espaço é caótico, não existem limites nos espaços interiores e até nalguns
Ontem foi dia de festa, alegria ao rubro na casa dos Vicente. Todos os
vizinhos partilham da festa. Hoje tudo se alterou e na mesma casa onde
decorreu uma festa, a esposa recorre ao Centro Social solicitando ajuda
económica para comprar material escolar para o filho mais novo. Acrescenta
que de manhã o seu companheiro voltou a bater-lhe.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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casos entre o interior e o exterior. Não existem horários, pois a vida não é
organizada como é mais comum: parece que têm outro relógio e outro
calendário.
Por tudo isto, estas famílias são um desafio à intervenção!
Mas antes de me centrar no cerne dessa maravilhosa palavra: Intervenção, é
obrigatório falar dos recursos/competências das famílias multiproblemáticas,
que só por si, enquanto conceito, definem cada passo (podemos chamar-lhe
técnica, metodologia, tarefa, fazer com…,). O essencial é que antes de definir a
intervenção tenhamos presente as competências de cada membro em cada
família.
2.3- Recursos/competências
Dadas as realidades com que intervimos diariamente, por vezes, a nossa
prática resume-se a “ser bombeiros”, remediando situações pontuais.
Paralelamente, temos muita dificuldade em identificar competências. O
diagnóstico inicial (e por vezes continuo) raramente tem em conta as
potencialidades e competências das pessoas/famílias. Sentimos que é tal a
confusão problemática que a família não tem ponta por onde se lhe pegar.
Centramo-nos no pedido inicial, sem aprofundar: Quem faz o pedido e porquê
agora? Porque contactou aquele serviço ou aquele técnico? O que deseja
(pedido expresso e pedido lactente)? Como vivência aquela situação-problema
e a sua família/cada membro? …
Por vários motivos, um dos quais porque as políticas sociais são estruturadas
como botiques: existem quatro a cinco números que terão de “encaixar” em
infinitas famílias, obrigando os técnicos a disporem dessas cinco respostas
predefinidas para cada situação-problema; com timings definidos,
independentemente do ritmo de cada família ou de cada pessoa; com recursos
escassos que dão corpo a acções, que afinal não se concretizaram porque…;
com tanta coisa… que o essencial à mudança fica para segundo plano.
No fundo os pedidos envolvem o desejo de estabilidade (e não de mudança),
quem faz o pedido espera que o técnico resolva o problema, sem que o próprio
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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tenha de mudar. No entanto, a resolução de uma situação envolve a mudança
e quem faz o pedido raramente tem esta dimensão. (Sousa, 2005)
Falar de família competente é, pois, uma maneira de dar à família a sua
competência, antes de ter em conta as suas faltas. Isto modifica,
evidentemente, a posição do técnico. De facto, se ele trabalha com uma família
que é capaz de resolver os problemas que se lhe põem, já não faz sentido
encarregar-se dela, de pôr nas suas costas o peso dos problemas da família,
mas antes, activar um processo no qual a família poderá observar,
experimentar, mudar. (Ausloos, 2003)
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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3- Intervenção
Como no início deste trabalho referi: Um dos princípios que orientam a minha
vida é acreditar que as famílias têm potencialidades para mudar os seus
comportamentos, por mais fragilizadas que estejam. Esta fragilidade acentuase
e aumenta pela pobreza extrema em que algumas vivem, pela falta de
apoios e consequente marginalização, pela ignorância acerca das coisas
básicas da vida, pelo estigma de serem disfuncionais ou multiproblemáticas…
Da nossa prática profissional, às vezes esquecemo-nos do essencial: a família
é que decide o que quer mudar e a função do técnico é ajudá-la a realizar esse
objectivo treinando competências, integrando-a na sua rede comunitária e
orientando-a para os serviços adequados. A ideia chave no nosso trabalho ou
objectivo central é autonomizar as famílias para que aprendam a ultrapassar os
obstáculos e a resolver os problemas que desencadearam a crise, que está na
origem motivos porque nos pedem apoio.
Dar atenção ao todo que é a família e às partes que são os seus elementos. À
comunidade a partir das necessidades manifestadas e orientar as pessoas
para os serviços adequados a cada caso.
Mas, como?
As indicações que construí e que sinto a necessidade de comunicar não devem
encerrar o processo num círculo vicioso (estudo, diagnóstico-acção,
conclusão), mas, pelo contrário, abrir à exploração soluções que até aí
ninguém havia imaginado e que serão boas precisamente por serem
inesperadas.
Surgem alguns problemas que se opõem à intervenção.
Atingir qualidade na intervenção passa por identificar todos os potenciais
problemas e competências para os quais são necessários serviços
especializados, o que nem sempre é fácil porque, e em primeiro lugar, cada
técnico fala a sua própria linguagem contribuindo para a fragmentação da
intervenção e para a confusão dos envolvidos, sejam eles famílias ou técnicos.
Em segundo, a intervenção rigidifica-se por áreas, sem existir, na maior parte
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dos casos, um gestor de caso, centralizador da intervenção no seu todo, quer
também para as famílias quer para os técnicos. Estas confusões são
transversais a serviços e a equipas, mas considero que se soubermos trabalhar
em equipa conseguimos, ou pelo menos sabemos, trabalhar entre serviços, ou
seja, é necessário definir um gestor de caso em função da problemática central
à intervenção. Em reunião multidisciplinar definir quem faz o quê? Com que
objectivos? Com que recursos? Explicar aos clientes qual a função de cada
técnico.
3.1- Equipas multidisciplinares
Um dos problemas concretos da multiassistência prende-se com a diluição do
processo familiar (Colapinto, 1988), entendida como a transferência de funções
tipicamente familiares para os serviços sociais.
O apoio social, embora organizado para ajudar as famílias, frequentemente
peca por um controlo excessivo (consideramos que podemos e devemos gerir
as várias áreas que constituem a vida de cada pessoa: económica, saúde,
jurídica, etc) e negligencia o contributo da sua acção na desestruturação
familiar, agindo através de práticas (e políticas) que ignoram a diversidade de
interacções familiares. O habitual é desvalorizar a necessidade de intervenção
ao nível da desestruturação familiar. Colapinto (1995) sugere que uma
interacção que colmate os efeitos de diluição terá de alterar os padrões de
interacção familiar através da sugestão e treino supervisionado de novos
padrões.
Na circunstância particular das famílias multiproblemáticas os problemas são
variados e a intervenção mais comum consiste em identificar problemas e/ou
necessidades para dar respostas. O diagnóstico descreve um rol de aspectos,
tornando quase impossível perscrutar circunstâncias positivas. Este facto
poderá acentuar-se na intervenção desenvolvida em equipas multidisciplinares,
pois o que um técnico considera como potencialidade outro poderá considerar
como problema.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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Uma mãe, que por inexistência de vagas em equipamentos de primeira
infância, para integrar dois dos seus três filhos, de 19 meses e 3 anos, recusa
pela segunda vez ofertas de trabalho.
Um dos técnicos considera que de facto a senhora está motivada e
preocupada com a integração dos filhos, mas não consegue vagas para tal. O
outro técnico considera que a senhora não está interessada na sua integração
profissional porque, caso contrário, teria aceite as ofertas de trabalho, que
posteriormente lhe poderão dar a possibilidade económica para integrar os
filhos em equipamentos privados.
Estas diferentes definições, muitas vezes feitas sobre a família e não com ela,
podem confundi-la ainda mais.
As famílias são muitas vezes descritas como caóticas, instáveis. Essa
instabilidade é, em parte, um estilo de vida (misturado com pobreza, consumo
de drogas e violência) mas é, também, um subproduto das intervenções
sociais. A questão que se coloca não é se tais intervenções são necessárias,
mas o facto de por estas razões quebrarem a estrutura das famílias.
Consequentemente, a dúvida é: como desenvolver as acções indispensáveis
sem fracturar a família? (Sousa, 2005) Isto porque estamos dentro de um
quadro organizacional, numa determinada politica/acção social, que obriga a
intervenção a desenvolver-se segundo esse quadro? Mas a realidade de cada
família, a estrutura de cada família é muito mais que esse quadro limitador e
orientador (para precárias mudanças).
3.2- O P.I. sou eu, és tu ou somos Nós? A Identificação
Intervir não é resolver problemas ou corrigir erros mas mergulhar no mistério
das famílias e do encontro. Isto implica passar de uma acção onde o técnico
observa para uma acção onde o técnico se observa de forma a reflectir na
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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família competente. Essa percepção permitirá deixar de emergir a «autosolução
». (Auloos, 2003)
De facto, por detrás de um técnico está sempre uma pessoa… com
personalidade e sensibilidade únicas logo, a sua intervenção, sendo técnica,
nunca pode deixar de ser humana. Cada um de nós com uma história de vida
pessoal e que posteriormente passa a ser também profissional.
Ao intervir com famílias multiproblemáticas passamos por emoções e
sentimentos que nos surpreendem dia após dia: conhecemos realidades que
pensamos só existirem em ficção, vivemos situações limite que nos fazem
reflectir continuamente sobre a melhor decisão a tomar.
Mas principalmente percebi algo que ainda hoje me motiva: o meu trabalho
pode realmente mudar a vida das pessoas, posso ajudá-las a serem mais
felizes.
Lembro-me de no meu 9º ano realizar os testes psicotécnicos para definir área
vocacional e dizer à técnica: “Quero uma profissão que permita ajudar os
outros, que não faça sempre a mesma coisa todos os dias,…” Tenho recordado
estas palavras imensas vezes porque todas as famílias têm a sua própria
dinâmica e, por isso mesmo, nunca faço intervenções iguais. De facto, é
necessária uma grande flexibilidade do técnico para saber intervir com cada
família. Isso exige de cada um de nós uma grande entrega ao longo da
intervenção, assim como uma avaliação constante.
Perante as dificuldades diárias, as frustrações constantes, os retrocessos mais
que avanços e uma supervisão pessoal/profissional (porque somos um todo)
inexistente, caímos numa forma de intervenção vazia, desprovida de
metodologia e muito menos reflexão teórico-prática.
3.3- A Mudança
Tenho um amigo que é restaurador de obras de arte. Fascina-me vê-lo
trabalhar. Nas muito raras vezes que isso foi possível fiquei silenciosa e
maravilhada a ver o que e como fazia: de forma serena mas segura, lenta e
discretamente, mas com um cuidado imenso, deixava que a obra de arte que
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se encontrava distorcida e em alguns casos totalmente encoberta, dizia eu que
deixava que ela se revelasse na sua maravilha.
O meu amigo não retirava nada do original apenas recuperava o que, por
tantos e quantas vezes desconhecidos motivos, foi estragado ou destruído.
Com genuína humildade, anónimo, deixava e propiciava que cada original se
mostrasse na sua imensa beleza depois de recuperado, porque ele sabe que
não é criador, apenas (apenas?...) permite que cada obra se mostre no seu
melhor. (Sónipa, 2005)
Penso nesse amigo quando intervenho com cada família, quando em equipa
definimos estratégias para alcançar metas, quando os recursos teimam em
escassear e acabamos o dia a pensar no amanhã, ou quando fico sem
respostas a olhar para as colegas, quando solicitam resultados que não têm
nada a ver, quando alguém já não acredita que vale a pena…
A mesma serenidade, a mesma discrição, a mesma humildade, recuperando o
que tantas vezes uma vida sofrida fez distorcer. Deixando que cada família, ela
mesma, com a sua cultura, com o que tem de melhor e mais autêntico, se
reconstrua, se refaça, se recupere, se reconcilie.
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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Conclusão
Todos os técnicos que trabalham com famílias multiproblemáticas vivenciam
um conjunto de emoções infinitas. Estas vivências são parte integrante da vida
do profissional e podem facilitar ou bloquear a evolução duma intervenção.
Cada intervenção, inscrita numa relação de ajuda é, de algum modo, um
encontro entre semelhantes no qual um ajuda e outro é ajudado. O caminho
que se percorre é que, de alguma forma, define o resultado.
A ideia principal deste trabalho é simples, num contexto onde tudo nos parece
complicado: o técnico tem que ter referenciais teóricos claros e tem de
metacomunicar sobre as suas ideias, os seus valores, os seus
comportamentos e os seus sentimentos. (Simples?)
Este trabalho serviu também para metacomunicar comigo mesma. Não tenho a
certeza do que proponho, por isso mais que dar respostas à intervenção com
famílias multiproblemáticas procurei deixar questões, com o objectivo de
A (nossa) intervenção com Famílias Multiproblemáticas
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promover a reflexão, porque cada um de nós deverá encontrá-las na sua
prática.
Este trabalho é apenas um olhar, incerto mas convicto, assaltado de dúvidas
mas consciente, incompleto mas uma base para que os técnicos de acção
social creiam, criem e inovem as ideias recebidas, para que a arte se torne o
motor das nossas inter-relações.
Referências Bibliográficas
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Auloos, Guy, A competência das famílias, Climepsi Editores, Lisboa, 2003
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Paris: ESF, 1988.
Colapinto, J. Dilution of family process in social services: implications for
treatment of neglecful families. Family Process, 1995.
Goleman, D., Inteligência emocional, Temas e Debates, Lisboa, 1997.
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Relvas, Ana Paula, Por detrás do Espelho, Quarteto, Coimbra, 2003.
Sampaio, D.; G. José, Terapia Familiar, Edições Afrontamento, Porto, 1985.
Sampaio, D. - «Terapia familiar sistémica», Acta Médica Portuguesa, 1984; 5:
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Sónipa, A. E tal, cada família… uma história, MDV, 2005.
Sousa, L., Famílias Multiproblemáticas, Quarteto, Coimbra, (2005).
Weizman, J., Engaging the severely dysfunctional family in treatment: basic
considerations. Family Process, 24, 1985, pp. 473-485.

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